A primeira aparição em registros históricos do nome Sefarad ocorre no Livro do Profeta Abdias 1:20, para designar a Hispânia, a Península Ibérica. Sefaredim são os judeus originários daquela região, descendentes dos que foram enviados para lá durante o exílio da Babilônia, no século IV a.C. Finis Terra é como os conquistadores romanos chamaram a região localizada mais ao norte e a oeste de Sefarad, cerca do ano 50 a.C.

Com a queda do Império Romano, Sefarad passou a ser dominada por bárbaros visigodos. Quando estes se cristianizaram, no século VI, os sefaredim foram obrigados a se converter ao catolicismo. Até o final do período gótico em Espanha, os que lá permaneceram viveram como uma minoria perseguida e discriminada.

Em 711 d.C. os muçulmanos de Tarik conquistam a Península Ibérica e aos sefaredim foi permitido retornar. Ocorreu, então, o florescimento de uma cultura singular na região. A Idade de Ouro em Sefarad, situada entre os séculos X e XII, é caracterizada por um extraordinário intercâmbio entre os “Povos do Livro”: judeus, muçulmanos e cristãos. O encntro promove um vigoroso renascimento das artes, da literatura, das ciências e da filosofia.

Quando Granada, a última fortaleza muçulmana, é reconquistada pelos exércitos cristãos, os reis espanhóis católicos Fernando e Isabel decidem extinguir a cultura judaica em Espanha. E a longa trajetória da identidade Sefarad é encerrada dramaticamente com o Édito da Expulsão, em 31 de março de 1492. 

Com a expulsão, os sefaredim se dispersaram em várias direções, criando novas comunidades na Europa, na África do Norte, no Oriente Médio e na América. Eles levaram consigo a cultura, a espiritualidade e as tradições cultivadas por séculos em Sefarad. A língua falada por esses judeus era o Ladino, o espanhol do século XV, composto de um vocabulário variado, extraído do espanhol, do português, do latim, do árabe e do hebraico. Este idioma os acompanhou pelo mundo. Originalmente valeram-se do alfabeto hebraico, mais tarde “ladinizado”, ou seja, transcrito em caracteres latinos. 

Fortuna Safdié celebra Sefarad

As canções aqui selecionadas datam da Idade de Ouro de Sefarad. Fazem parte do magnífico repertório da cantora Fortuna Safdié, que num esforço de singular determinação as pesquisou e resgatou. Apresentando-as no idioma ladino original, possibilita que este importante legado histórico, litúrgico e de ensinamentos possa ser novamente reverenciado.

Aos que vão escutar As Canções de Sefarad sugiro a respiração serena e apaziguada. A quietude, a veneração e o silêncio, posto que tudo o que respira é manifesto e louva ao Senhor…

Agora e para sempre em Sefarad!

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Publicado por vanaweb

Valério Azevedo nasceu na segunda metade do Século XX. O autor é, portanto, um baby-boomer. Cresceu assistindo televisão. Aos nove anos acompanhou, ao vivo, o homem caminhar pela primeira vez na superfície da Lua, porém sem cores. Há esse tempo, seriados de TV mostravam viajantes do espaço, do tempo e do fundo do mar combatendo monstros ameaçadores. Somente em 1973 a televisão no Brasil ganhou cores e ele passou a ver, sem assombro, negras silhuetas contra o céu azul despejarem a morte sobre a Indochina. Nessa época havia na casa dos seus avós um telefone que ele nunca usou. Anos mais tarde, em seu primeiro emprego, Valério conheceu o videoteipe. Invento extraordinário, que aprimorou a manipulação de imagens e sons, causando na narrativa audiovisual um sentimento algo instantâneo e urgente, e apaixonou-se por essa ideia. Pouco depois apareceram os primeiros computadores pessoais. Eles poderiam facilmente substituir máquinas de escrever e pilhas de papel, mas o autor os percebia apenas como brinquedos. Ele jogava xadrez com um deles e em sua esverdeada tela de fósforo encontrou inspiração para começar a escrever ficção. Com a chegada, no Brasil, do telefone celular e da rede mundial de computadores, em princípios dos anos 1990, a conexão entre as pessoas se intensificou incrivelmente. Ao mesmo tempo, a passagem de registros analógicos para digitais alterou de forma decisiva o modo de se produzir informação. Pouco depois da virada do milênio, o advento das redes sociais da internet foi o golpe de misericórdia na elaboração regulamentar de informações. Para o autor da página A Existência Virtual, “agora que os telefones fazem tudo, e até transmitem imagens e sons ao vivo, cada pessoa já pode se ocupar de espalhar sua precária e angustiada verdade, que a seguir se dissolverá como os entressonhos do alvorecer”. Então, decidiu retornar ao papel impresso, pois segundo ele, conforta-o a sensação do livro nas mãos e a ausência da barra de rolagem.

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