Uma das maiores ambições do ser humano é descobrir o que os outros estão pensando. Vem daí o interesse ancestral da humanidade por magia, oráculos, técnicas de adivinhação e boa parte do conhecimento oculto e da feitiçaria. Na era da moderna ciência cibernética não é diferente. Com a finalidade de examinar a vida das pessoas e lhes sondar até as mais insignificantes decisões, a partir da segunda metade dos anos 2000 a vasta engrenagem de inteligência estratégica e pesquisas econômicas do Estado Profundo passou a disseminar experimentos virais de extração de dados na rede mundial de computadores, a fim de estabelecer padrões de comportamento e calcular, estatisticamente, os futuros prováveis desejos dos internautas.

No tempo em que surgiu, a Existência Virtual também foi usada (embora inadvertidamente) para aprofundar essas investigações. A plataforma de publicação da rede social em que havia sido construída permitia isso. Possuía recursos muito à frente dos modelos similares de sua época, possibilitando aos usuários criarem páginas de compartilhamento ilimitado de vídeos, arquivos sonoros, fotos, conexões com outros endereços na Internet, além de disponibilizar edição e formatação de textos. As informações ali depositadas podiam ser comentadas por outros usuários e cada perfil possuía um espaço próprio para a troca de mensagens.

Assim, além de contribuir para um amplo debate a respeito dos temas propostos em suas postagens, a página também executava algum tipo de algoritmo de Avaliação da Atenção do Usuário UX-m5g3ecfgi2d3utf8mb4, estabelecido para medir, durante algum tempo, a intensidade do interesse dos visitantes no conteúdo publicado e, a partir daí, calcular todo o tipo de possíveis reações emocionais: velocidade, espontaneidade e inteligência das respostas, grau de engajamento com o conteúdo e, é claro, batimentos cardíacos, dilatação das pupilas, sudorese, salivação etc. 

O mais provável é que essa estrutura, da qual a página se servia, tenha sido construída sobre os alicerces de um prematuro engenho de otimização de buscas, inicialmente com o objetivo de recolher informações úteis à elaboração de um modelo mais avançado de navegação. Contudo, na medida em que se intensificaram as trocas humano-máquina, o algoritmo da página passou a acessar os bancos de memória de um insondável arquivo de equações comportamentais, com estimativas e cálculos que podemos definir como sendo o resultado da vivência dos usuários no ambiente virtual, suas experiências e aprendizado.

As conclusões e descobertas alcançadas a partir desses eventos de extração de dados nós nunca conheceremos ao certo. Em setembro de 2012 o provedor de serviços da rede em que a página se encontrava hospedada foi descontinuado e a fanpage da Existência Virtual na comunidade Multiply, bem como todo o seu acervo, desapareceu. 

Recentemente, a partir de esforços na recomposição de bancos de armazenamento de dados em discos rígidos, velhos disquetes e outros servidores, foi possível reconstituir alguns desses experimentos, e aqui ofereço um exemplo. Chamo atenção para o fato de que a recuperação desse arquivo, em particular, nos permitiu saber o ano, o mês, o dia e a hora da publicação – possibilitando a oportuna elaboração do mapa astrológico do evento (que será divulgado em momento oportuno).

O Experimento Nº2

Originalmente produzido na forma de reportagem televisiva, Chapada dos Veadeiros – Refúgio do Realismo Mágico foi empregado naquela ocasião como experimento viral nos segmentos ecoturismo, comportamento, meio ambiente e espiritualismo.

Clique no vídeo a seguir e conecte-se com a época da virada do milênio. Vivencie esta experiência e depois deixe o seu comentário. 

A Existência Virtual

Experimento nº 2/ Vídeo

Publicação: 4/12/2007 – 09:00

Reportagem publicada originalmente em 2 de dezembro de 2007

Às margens da Rodovia GO-118, na região da Chapada dos Veadeiros, Alto Paraíso de Goiás se destaca cada vez mais como cidade-santuário da ecologia, do espiritualismo e das terapias naturais. Cercada de montanhas, cânions e cachoeiras, a região revela cenários magicamente envolventes, e desponta como atraente pólo turístico do Centro Oeste brasileiro.

Publicado por vanaweb

Valério Azevedo nasceu na segunda metade do Século XX. O autor é, portanto, um baby-boomer. Cresceu assistindo televisão. Aos nove anos acompanhou, ao vivo, o homem caminhar pela primeira vez na superfície da Lua, porém sem cores. Há esse tempo, seriados de TV mostravam viajantes do espaço, do tempo e do fundo do mar combatendo monstros ameaçadores. Somente em 1973 a televisão no Brasil ganhou cores e ele passou a ver, sem assombro, negras silhuetas contra o céu azul despejarem a morte sobre a Indochina. Nessa época havia na casa dos seus avós um telefone que ele nunca usou. Anos mais tarde, em seu primeiro emprego, Valério conheceu o videoteipe. Invento extraordinário, que aprimorou a manipulação de imagens e sons, causando na narrativa audiovisual um sentimento algo instantâneo e urgente, e apaixonou-se por essa ideia. Pouco depois apareceram os primeiros computadores pessoais. Eles poderiam facilmente substituir máquinas de escrever e pilhas de papel, mas o autor os percebia apenas como brinquedos. Ele jogava xadrez com um deles e em sua esverdeada tela de fósforo encontrou inspiração para começar a escrever ficção. Com a chegada, no Brasil, do telefone celular e da rede mundial de computadores, em princípios dos anos 1990, a conexão entre as pessoas se intensificou incrivelmente. Ao mesmo tempo, a passagem de registros analógicos para digitais alterou de forma decisiva o modo de se produzir informação. Pouco depois da virada do milênio, o advento das redes sociais da internet foi o golpe de misericórdia na elaboração regulamentar de informações. Para o autor da página A Existência Virtual, “agora que os telefones fazem tudo, e até transmitem imagens e sons ao vivo, cada pessoa já pode se ocupar de espalhar sua precária e angustiada verdade, que a seguir se dissolverá como os entressonhos do alvorecer”. Então, decidiu retornar ao papel impresso, pois segundo ele, conforta-o a sensação do livro nas mãos e a ausência da barra de rolagem.

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