Místico. Misterioso, espiritualmente alegórico ou figurado. Referente à vida espiritual e contemplativa. Que emerge do ambiente místico. Que mediante a contemplação espiritual procura atingir o estado extático de uma união direta com a divindade. Místico é também tudo aquilo que leva o ser humano à travessia de suas transcendências internas. Um caminho, por exemplo, pode ser simplesmente um lugar por onde passamos, mas pode ser também o meio pelo qual alcançamos o entendimento que nos conduz a essa travessia. É a busca ou a descoberta das essências do mundo natural, do poder dos quatro elementos, das crenças e das culturas. Do encontro consigo mesmo – com a essência de cada um.

Há muitas formas de se percorrer um caminho. Uns se retiram, outros giram em torno de si mesmos. Há os que meditam, os que peregrinam, os que louvam e os que silenciam; há os que estudam, os que contemplam, os que rendem graças e há os que gravam no coração.

A Marcha

Os especialistas discordam sobre os locais de origem das primeiras sociedades caçadoras-coletoras nômades e o percurso que estas fizeram até dominarem a difícil ciência da agricultura, quando se fixaram, estabelecendo os primeiros assentamentos, depois as cidades e posteriormente os primeiros reinos, onde nasceram a escrita, as religiões e as leis. Desde o fim da última glaciação e início do Neolítico a humanidade percorre a Terra, calcando com sua marcha incessante os caminhos de busca do progresso, da prosperidade e do conhecimento. Transcorridos alguns milênios, o rastro dessa trajetória revela os contornos da própria história.

Segundo o antropólogo Max Müller, fundador da paleontologia linguística, foi da vertente norte do Himalaia, há cerca de uns 10 mil anos, que o homem indo-europeu desceu para o sul e para o oeste da Ásia, ocupando a Mesopotâmia, o médio oriente, e depois o Egito, a Grécia, e a Europa, seguindo a rota do Sol. Aos poucos, a multidão ancestral avançou ao longo do paralelo 15 Norte, trazendo seus costumes, línguas e crenças.

A visão mística dos homens – expressa por meio da variedade de religiões e ritos sempre presentes – desempenhou um papel essencial na formação dos povos. Foi a religião que determinou a estrutura funcional das sociedades arcaicas. No sentido vertical, o sagrado representava o culto prestado à ancestralidade ilustre e às divindades, ficando a cargo dos sacerdotes. No sentido horizontal, representava a relação dos homens entre si e a autoridade cabia aos reis, que comumente se confundiam com os sacerdotes.

Chama atenção a identidade de certas palavras comuns a muitas dessas antigas civilizações. Por exemplo, o termo usado para designar a Deus no idioma protoindo-europeu (possivelmente a linguagem estruturada mais antiga que se tem notícia), deriva da raiz Dei, que para a cultura Kurgam (12 mil a.C.) significa “iluminar”. Dela se originaram as palavras Deiwos, ‘Deus’ em indo-europeu e Die, ‘dia’ nessa língua. Da mesma raiz se origina Devah, que em sânscrito significa “ente luminoso”; Devon, Deus em gaulês; Zeus para os gregos, Deus em latim e a palavra devoção, em português. No Livro dos Vedas a invocação Dyaus-Pitah corresponde exatamente à expressão iospater, o Júpiter dos romanos, o Deus-Pai. E assim, o homem seguiu os caminhos de seu Deus-Pai e ente luminoso na marcha da civilização no Hemisfério Norte, do oriente para o ocidente como o faz o Sol.

A Travessia do Mar Tenebroso

É consenso entre os historiadores, que por séculos a expansão da civilização europeia em direção ao Ocidente permaneceu imóvel, barrada pelo Mar Oceano. Embora se saiba que algumas culturas – na antiguidade os sumérios e cartagineses, e na Idade Média monges templários e os Vikings da Islândia – em episódios fortuitos tenham transposto o Atlântico, oficialmente apenas no século XVI o conjunto dos povos europeus avançou para o oeste pelo mar. Numerosos viajantes se lançaram à temerária tarefa de desvendar os mistérios além do horizonte incerto, atravessando o dilatado oceano e atingindo a América pelo Hemisfério Norte. Traziam agora consigo a marca de seu Deus, que oferecendo-se em sacrifício transformou a Cruz, marca de ignomínia, em sinal de fé. O próprio descobridor desse continente, presumindo que atingira pelo Ocidente as praias do Oriente, julgou-se em outro mundo ao avistar a costa verdejante, onde tudo lhe dizia estar a caminho do verdadeiro Paraíso Terreal.

Outro descobridor, o fidalgo português Pedro Álvares Cabral, aventurando-se pelo Mar Tenebroso cruzou a linha do equador em direção ao Hemisfério Sul e encontrou terra firme. Procurando um ancoradouro natural na costa inexplorada, aportou exatamente no paralelo 15 desse Hemisfério – o Porto Seguro da sua chegada. Batizou o lugar com o nome de Terra de Vera Cruz, da Cruz verdadeira, tal era o poder que este símbolo místico tinha sobre os homens. Sinal tão inconteste que Frei Henrique de Coimbra, sacerdote da expedição, o erigiu a mando de Cabral como marco de posse da terra descoberta. A mesma Cruz que o astrólogo da esquadra descobriu no céu do Hemisfério e descreveu ao rei de Portugal: “Somente mando a vossa Alteza como estão situadas as estrelas do sul… E ainda estou em duvida, que não sei qual de aquelas duas mais baixas seja o Polo Antártico; e estas estrelas, principalmente as da Cruz são grandes como as do Carro; e a estrela do Polo Antártico, ou Sul, é pequena como a do Norte e muito clara…”

A marcha da Civilização na rota do Sol

Seguindo a Rota do Sol

Por causa das descobertas que estavam revelando o Novo Mundo, em 1494 os reis de Portugal e Espanha, sob as bênçãos do Papa, imaginaram dividir o Mundo em duas metades, firmando o Tratado de Tordesilhas. Na nova terra descoberta, o marco imaginário do Tratado estabeleceu uma divisão entre os dois estados signatários, tendo como linha divisória o meridiano localizado a 370 léguas a oeste das ilhas do Cabo verde, cerca de 46°37’ longitude Oeste e, posteriormente, estendido à longitude de 48º35’25”. A intersecção desta linha com o Paralelo 15 Sul projetou, mais umas vez, a imagem da Cruz sobre o território revelado.

Na terra da verdadeira e Santa Cruz, o avanço continente adentro durante muitos anos se subordinou à lógica do Tratado, resultando em um modelo de ocupação territorial predominantemente voltado ao desenvolvimento da região litorânea, quase sempre em detrimento do interior. Note-se que este fato contribuiu para que a marcha da civilização se detivesse durante algum tempo. Entretanto, a ação contínua dos desbravadores ampliou os limites da nação que ali se formava na direção das Cordilheiras. O símbolo trazido nas velas dos navios descobridores e reconhecido no céu pelo astrônomo da armada, no entanto se sublinhava, desta vez, em certos planaltos do interior.

Tal como marujos encantados por sereias, nas décadas seguintes levas de povoadores mergulharam no sertão profundo; enamorados da promessa de tesouros ocultos nas ruínas de palácios imaginários, sucumbiam ao quimérico mito do Eldorado. Viajando sobre a linha de Tordesilhas, marcavam, sem saber, novamente a grande Cruz. Na intersecção dessas duas linhas, a do Tratado e a do Paralelo 15, surgiu a promessa de um dia ali ser erigida a capital do País de Vera Cruz, a cruz verdadeira – milagre de um líder capaz de captar a essencialidade da dimensão mística e ponto de partida para a continuidade da marcha civilizatória, seguindo a Rota do Sol.

O sonho de Dom Bosco

Na noite de 30 de agosto de 1883 em Turim, na Itália, ocorreu um fato incomum. João Bosco, um sacerdote dedicado à educação, fundador da Ordem dos Salesianos – e declarado santo pela igreja Católica – teve um de seus afamados sonhos-visão, de profunda dimensão mística e profecia civilizatória.

Segundo narrou de próprio punho em suas memórias, foi arrebatado pelos anjos, achando-se em meio a grande turba, em uma estação ferroviária. Dom Bosco toma ali um trem. No interior do vagão passa a ser orientado por um guia celestial, que declara: “Olhai! Olhai! viajamos em direção às cordilheiras!”

O Santo atravessa os dilatados sertões. Em sua visão profética vai por rios caudalosos e emaranhadas veredas: “Por mais de mil milhas havíamos flanqueado a orla de uma floresta virgem, ainda hoje inexplorada. Meu olhar adquiriu uma acuidade visual maravilhosa. Não havia obstáculo que o detivesse naquelas paragens. Eu enxergava nas entranhas das montanhas e no seio profundo das planícies. Tinha ante meus olhos as riquezas incomparáveis desses países; as quais um dia hão de ser descobertas. Tão abundantes como nunca até agora foram encontradas noutros lugares. Mas isto não era tudo. Entre os paralelos 15 e 20 havia uma depressão bastante larga e comprida, partindo de um ponto onde se formava um lago. Então, repetidamente, uma voz assim falou: Quando vierem escavar as minas ocultas no meio dessas montanhas, surgirá aqui a nova civilização, a terra prometida, vertendo leite e mel. Será uma riqueza inconcebível. Este acontecimento ocorrerá antes que passe a segunda geração…”

Então, o Santo perguntou ao Anjo: e qual é a segunda geração? Ao que ele responde: “esta de agora não conta. Será uma outra, e em seguida uma outra”. Estava profetizado o ponto de partida para a Nova Terra Prometida – onde será revelada uma riqueza inconcebível e de onde verterá o leite e o mel.

O Santo Católico Dom Bosco, patrono da Educação

Brasília no Centro do Mundo

O surgimento de Brasília está relacionado com duas perspectivas: uma histórica e outra espiritual. Na perspectiva histórica, a ideia da interiorização da Capital do Brasil remonta aos primórdios da Terra de Santa Cruz, evoluindo até o Século XX, no período do presidente Juscelino Kubitschek, que a criou.

Ao historiador Francisco Adolfo Varnhagem, visconde de Porto Seguro, se deve em 1839, a mais esmerada identificação do local aonde deveria se situar a Capital. Varnhagem percorreu região e indicou o lugar onde se encontra hoje o Distrito Federal: “Refiro-me a bela região situada no triângulo formado pelas três lagoas, Formosa, Feia e Mestre d’Armas, com chapadões elevados a mais de mil metros sobre o mar…” Em 1892 a Missão Cruls fez o levantamento da região indicada por Varnhagem, resultando no que se conhece como Retângulo Cruls, o mapa do Distrito Federal. O passo seguinte foi a instalação da Pedra Fundamental, em 7 de setembro de 1922, ano do centenário da independência do Brasil.

O projeto para a construção da cidade de Brasília só foi definido em 1957. A solução urbanística expressa pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa partiu de uma ideia, por assim dizer, pronta: “Brasília nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar, ou dele toma posse; dois eixos cruzando-se em angulo reto, ou seja: o próprio Sinal da Cruz”. Assim como no Descobrimento e no evoluir da história brasileira, também na fundação de Brasília, a imagem de um Cruzeiro assinalou o início de uma nova trajetória, tornando a revelar, agora nos Planaltos Centrais do país, o sentido místico desse símbolo que acompanha a marcha da civilização.

Quando das definições da localização da cidade, houve muita disputa sobre em qual Estado da Federação seria a Capital, se em Minas Gerais ou Goiás. Conta a história que Israel Pinheiro, o engenheiro responsável pela construção, teria sido abordado pelo prefeito de Goiânia, Venerando de Freitas Borges, que ofertou a ele um livro cuja peça de abertura incluía o Sonho de Dom Bosco. Todos conheciam a devoção de Israel Pinheiro ao Padre italiano. Após esse encontro nunca mais se discutiu para onde levar a capital, pois compreenderam, o engenheiro e o Presidente Kubitschek, que o destino havia reservado um significado transcendente àquele lugar.

A cidade de Brasília vista do espaço

O Distrito Federal – Brasília e seu derredor – oferece hoje enorme variedade de opções místicas:  As religiões tradicionais, a Igreja Católica, os principais ramos do protestantismo, o budismo, o islamismo, entre outras ornam a cidade de templos que impressionam não só pela sua quantidade, mas por sua beleza arquitetônica, variedade de estilos e ambientes cheios de devoção, que convidam à prece e à reflexão. 

As crenças, filosofias e interpretações religiosas ou esotéricas se multiplicam na cidade. Dentre elas, surpreende a tese da Egiptóloga Iara Kern, “De Akenaton a JK – Das Pirâmides à Brasília”. Nela a pesquisadora compara, além do traçado urbano, certas edificações da Capital Federal a monumentos do antigo Egito. Num estudo que demandou seis anos de pesquisas, a professora baseia sua teoria na Numerologia, no Tarô Egípcio, na Cabala Hebraica e na Matemática das Pirâmides. A certa altura da obra chega a apontar semelhanças entre as fisionomias do Presidente JK e do Faraó Akenaton. 

Em 1959 a caminhoneira Neiva Zelay, por indicação de seu mestre espiritual – Pai Seta Branca – estabeleceu a Doutrina do Amanhecer numa localidade entre Brasília e Planaltina: A Comunidade do Vale do Amanhecer. O Vale é hoje considerado o maior fenômeno de sincretismo religioso do País, reunindo correntes espirituais de caráter mediúnico de várias linhas, desde o Kardecismo, passando por cultos à entidades egípcias, afro-brasileiras, indígenas, ciganas, incas, astecas, maias e ufológicas.

Por seu turno, a Fundação Cidade da Paz abriga a Universidade Holística Internacional da Paz. Tem como objetivo o desenvolvimento de experiências voltadas ao bem-estar comunitário e a cultura da Paz, por meio da construção do crescimento pessoal e espiritual de cada ser humano, despertando-o para uma nova consciência e uma nova visão do mundo. A Universidade engloba atividades científicas, religiosas, místicas, tecnológicas, ecológicas e educacionais.

A vocação Mística de Brasília e do Distrito Federal não é simplesmente uma invenção de quantos possam desejar uma cidade voltada para a espiritualidade. Brasília reúne efetivamente os mais variados arquétipos das concepções filosóficas universais. Inúmeras escolas de iniciação, ordens esotéricas e seitas místicas, gravitando ao redor das religiões tradicionais, constituem uma verdadeira síntese do ecumenismo – múltipla e harmônica, como há de ser na nova civilização. O afluxo dessas correntes à cidade é a própria reverência aos sinais aqui encontrados, que a distinguem como uma espécie de ‘chakra’, ou coração do Planeta. Sua identificação e elucidação estão também na base de uma rota de peregrinação mística de 150 quilômetros, feita na região e que constitui, ainda, os elementos inspiradores do Tarô de Brasília e do Brasil, proposto como oráculo da cidade. 

Na descoberta dessa rota o peregrino inicia sua caminhada na Torre de Televisão, onde vislumbra a grande cruz mística de Brasília, formada pelo Eixo Monumental em intersecção com as Avenidas que formam as Asas Sul e Norte – o Cruzeiro-síntese do Plano Piloto da cidade. Dali segue para a Catedral de Brasília. Lá ele irá se familiarizar com a realidade essencial do ‘Trono de Deus’, através da percepção dos homens, seu imaginário e iconografia. Como na visão do Profeta Ezequiel, lá estão representados os quatro fundamentos que constroem a Esfinge e seu desafio: o Leão, a Águia, o Touro e o Arcanjo.

No entender do místico José Roberto Bezerra Mariano, autor do Tarô de Brasília e idealizador da Peregrinação Mística de Brasília, “decifra-me ou te devora é a interrogação da esfinge aos homens”. Desafio ao homem contemporâneo e de sempre, afirma Mariano, “na busca da cidadania e da Paz individual, pedra angular da sua plenitude e garantia de Paz no mundo”. Nosce te ipsum (conhece-te a ti mesmo) sugere o autor seja “a inscrição no Portal da Era de Aquário e ponto de partida da Peregrinação Mística de Brasília pela paz mundial na nova terra prometida – O Caminho de Dom Bosco”. 

Vista da Catedral de Brasília, símbolo de ecumenismo idealizado pelo arquiteto Oscar Niemeyer – Foto: Rui Faquini

O Roteiro Místico Para o Centro do Mundo

Ao tempo da virada do milênio, na região dos planaltos centrais do Brasil, um conjunto de lugares incomuns unidos por meio de uma rota turística denominada O Caminho de Dom Bosco – Um Roteiro Místico Para o Centro do Mundo foi, também, um meio pelo qual as gentes daquela época podiam alcançar a transcendência de seus processos internos de evolução. Para percorrê-lo era necessário apenas aceitar a condição mística que existe em cada um. Da realidade que a todos rodeia: o místico da terra ou da natureza, o místico da sociedade e das culturas, o místico da diversidade de ritos e crenças que nos transporta ao religioso, à reconexão com o Absoluto.

Nessa época pós-tecnológica, o ser humano reduzido em má dimensão pelo encantamento da ciência, tentava retomar o seu destino de busca da transcendência do espírito, mais do que das limitações da matéria. Buscava a felicidade e a qualidade de viver, mais do que a riqueza e a acumulação de bens. Buscava o encontro com o seu ser autêntico, mais do que ter – buscava ser.

Opondo-se às tendências culturais verificadas naquele distante desabrochar de milênio, esta perspectiva estimulava a procura universal de lugares capazes de propiciar tal encontro. Milhões de pessoas no mundo todo, em todas as classes sociais, almejavam encontrar em locais assinalados as vias de peregrinação aos altares da Terra: em Roma ou Jerusalém, na Índia, no Tibete ou na Cordilheira dos Andes e na Galícia de Compostela.

O Brasil, com esplêndido apelo natural e características humanas, de rica cultura e religiosidade essenciais ao modo de ser de seu povo, não poderia deixar de descobrir o seu próprio Caminho Místico. Um conjunto de lugares naturais e culturais, sagrados e profanos, de extraordinário apelo místico, ordenados na forma de uma rota de peregrinação. Um caminho que partindo dos planaltos centrais do país, percorresse a trajetória histórica da ocupação territorial e alcançasse o que as escolas esotéricas costumam chamar de O Centro do Mundo – o ponto para onde se dirige a esperança do encontro com a epifania, a revelação, e, quem sabe, com a possibilidade da experiência mística de iluminação divina. Um itinerário que percorresse as culturas desde as mais primitivas, dos indígenas ancestrais, passando pelas tradições e costumes dos desbravadores europeus e dos povos africanos; que transitasse pela ‘Capital do Terceiro Milênio’, a moderna cidade concebida para abrigar a Nova Civilização.

O Caminho Místico se estabeleceu com esta percepção do processo civilizatório. Constituiu um convite ao Brasil e ao mundo para retornar à marcha da humanidade na Rota do Sol, agora através do paralelo 15 do Hemisfério Sul. Formalmente, esta percepção se materializou na forma de um roteiro de peregrinação – meio para revelar as imensas potencialidades da região de além do Tratado de Tordesilhas, e fazer com que cada um que o percorresse descobrisse, guiado pela dimensão mística da natureza e da história dos homens, o Centro do Mundo em si mesmo, reflexo interior do Cosmos, onde este se manifesta como consciência essencial. O ano de 2005 assinalou o início dos estudos de identificação do roteiro de peregrinação para o Centro do Mundo.

Mapa descritivo do Caminho de Dom Bosco, apontando suas rotas de peregrinação.

O Desafio do Desenvolvimento Sustentável

Ao longo dos últimos 50 anos, no mundo inteiro o paradigma das relações entre o crescimento econômico, o desenvolvimento social e a conservação dos recursos naturais sofreu numerosas mudanças. No Brasil, de vinte anos para cá, esta delicada equação vem exigindo atenção cada vez maior. Até meados dos anos 1990 a expressão desenvolvimento sustentável referia-se essencialmente à melhoria do cenário econômico, com redução dos impactos indesejados sobre o meio ambiente, geralmente depois que o mal já estava feito. Esse modelo, que infelizmente ainda persiste, tem os defeitos que todos conhecemos, mas representou um grande avanço em relação às práticas anteriores. Antes disso, a ideia de crescimento econômico se sobrepunha a qualquer outra consideração, trazendo muitas vezes como consequência a devastação ambiental, ao mesmo tempo em que estimulava a concentração de renda e a perpetuação da pobreza. Os desafios do Brasil do século 21, entretanto, exigem uma percepção mais elaborada de construção do futuro.

O conceito de desenvolvimento sustentável pode ter uma interpretação restrita, quando diz respeito apenas à sustentabilidade ambiental, ou pode se referir ao que se convencionou chamar Sustentabilidade Ampla – uma forma mais abrangente de relacionar os diferentes fatores que atuam sobre o desenvolvimento. O conceito de desenvolvimento sustentável amplo contempla não apenas a sustentabilidade ambiental, que trata unicamente da conservação dos recursos naturais, mas extrapola esta visão e vai buscar seus alicerces em quatro dimensões: social, política, econômica e ambiental. Esta maneira de confrontar os desafios do crescimento econômico ordenado está fundamentada na percepção de que é necessário construir o futuro de forma integrada, holística, multidisciplinar e, sobretudo, participativa.

Em primeiro lugar, é preciso ter consciência de que a sustentabilidade do desenvolvimento está intimamente associada à redução das desigualdades sociais. No médio prazo, a sociedade rejeitará qualquer iniciativa que não tenha como prioridade maior contribuir com soluções para o combate à exclusão social e para as disparidades regionais. Na esfera social, um projeto que não resulte na melhoria da qualidade de vida de sua população – por meio de ações voltadas, sobretudo, à promoção da cidadania e à erradicação da pobreza –, vai acabar perdendo sustentabilidade, continuidade, e seus objetivos serão abandonados.

Um segundo elemento essencial a um projeto de desenvolvimento sustentável é o processo participativo de construção, no qual a sociedade e os grupos de interesse organizados encontrem espaço para exercer o seu papel de representação política e institucional junto ao Estado. Trata-se aqui da sustentabilidade que se desenvolve no campo da governança e exige que as soluções sejam debatidas amplamente e negociadas passo a passo com os diversos segmentos da sociedade civil organizada. Nesse sentido, as instituições participam do processo de construção do modelo e colaboram com o seu desenvolvimento ou vão se transformar em obstáculos.

Outro aspecto indissociável da sustentabilidade ampla é a dimensão econômica. Uma atividade econômica só é sustentável se for eficiente e competitiva. Para ter permanência ao longo do tempo deve resultar, necessariamente, na melhoria da qualidade de vida das pessoas que dela subsistem. Neste caso, a condição necessária para assegurar a continuidade do desenvolvimento é a competitividade dos produtos e serviços gerados pela economia, estimulada pela adequação dos fatores sistêmicos, pela exposição à competição interna e externa, pela qualidade, pela produtividade e pela inovação.

Apesar da importância das dimensões social, política e econômica, o aspecto mais difundido do desenvolvimento sustentável nos dias atuais é a preservação do meio ambiente que, como sabemos, vem sendo exaustivamente discutida. A quarta dimensão do desenvolvimento sustentável amplo é, portanto, ambiental e se manifesta pela capacidade de manter os recursos naturais do Planeta.

Na abordagem dessa questão devemos estar atentos a um fator diferencial, de grande relevância na discussão a respeito da preservação dos recursos naturais. Não devemos olhar o meio ambiente somente como uma restrição ao desenvolvimento, ou um custo adicional para as empresas e a sociedade. Devemos percebê-lo principalmente como um grande conjunto de oportunidades para investimentos públicos e privados. Investimentos que devem ser intensivos em informação e conhecimento, capazes de gerar produtos e serviços de alto valor agregado, resultando no uso mais eficiente desses recursos e que preservem a capacidade da natureza em renovar-se, mantendo um processo de uso contínuo.

Desta forma, um projeto concebido sob os princípios do desenvolvimento sustentável amplo pressupõe que suas ações e resultados reflitam o equilíbrio dessas quatro dimensões. Pressupõe que somente será bem sucedido se for eficiente no enfrentamento da pobreza e das disparidades sociais e regionais, por meio da inclusão social; se for construído dentro de um processo amplamente participativo que assegure sua legitimidade; se resultar em atividades econômicas competitivas, capazes de inserir seus produtos e serviços nos mercados internacionais; e finalmente, se oferecer soluções inovadoras, que preservem as riquezas naturais, gerando emprego e renda.

Concebido na primeira década do Século XXI, o Roteiro Místico Para o Centro do Mundo é, em síntese, a ousada proposta de criação de um caminho de peregrinação turística, partindo de Brasília nas direções de Goiás e Tocantins, constituído de atrativos diferenciados, como cultura antiga, arqueologia, aventura e esoterismo. E ainda, um amplo portfólio de oportunidades ao empreendedorismo no turismo fundamentado nos princípios da Sustentabilidade Ampla.

Abaixo encontra o link para o documento contendo as conclusões do estudo.

https://aexistenciavirtual.com.br/wp-content/uploads/2022/02/Caderno-Roterio-Mistico.pdf

Heráldica do Caminho de Dom Bosco criada pelo místico José Roberto Mariano.

O Caminho Místico e a Chapada dos Veadeiros

Assim como São João Bosco, também o mestre indiano El Morya, da Grande Fraternidade Branca, profetizou, em 1957, que os Caminhos Místicos de peregrinação do Terceiro Milênio seriam revelados nos planaltos centrais do Brasil: “Os peregrinos que buscam o caminho e a iluminação espiritual serão doravante conduzidos para a América do Sul, como o foram, anteriormente, para o Oriente. Para este fim, os Senhores das forças da Natureza e do Reino Elemental estão prevendo um meio natural de acesso até agora não desvendado”.

Muito antes, às vésperas da independência do Brasil, o eminente naturalista Carl Freidrich Philipp von Martius conclui sua viagem de três anos pelo País das Pindoramas – cujo símbolo maior é o Buriti. Segundo ele, havia por aqui o reino das Náiades, as ninfas sensuais e murmurantes dos caudais amazônicos. Das Dríades, protetoras dos bosques e das Matas Atlânticas. Das Hamadríades, que fenecem nas secas e desabrocham com a chuva, e das Oréades, sentinelas dos planaltos tutelares e dos cerrados do Centro Oeste.

Desde os anos 1970, até meados de 2001, a região onde se localiza a cidade de Alto Paraíso, na Chapada dos veadeiros, foi, no Brasil, a Meca das sociedades alternativas, das seitas esotéricas e de todos quantos almejassem uma vida mais espiritualizada e saudável, longe da turbulência dos grandes centros urbanos. Para lá acorreram pessoas de todas as partes, pregando a cooperação, o amor livre, a não violência e o estreito contato com os elementos da natureza. A rica paisagem permeada de córregos, rios, cachoeiras e veredas serviu de cenário ideal ao florescimento de comunidades inspiradas no saber holístico e em filosofias orientais. Aguardavam o colapso da sociedade tecnológica de consumo, previsto para o ano 2000. Para lá se dirigiram, também, muitos ufólogos, videntes e sensitivos em busca de sinais advindos das esferas celestes.

Hoje, os recantos da Chapada guardam ecos da Nova Era de Aquário. Situada sobre uma das maiores jazidas de cristal de quartzo do planeta – visível do espaço – a região é uma espécie de refúgio do realismo mágico, no qual a força da natureza se traduz numa alquimia pululante de jardins encantadores, e onde os que procuram o caminho da iluminação espiritual podem ser conduzidos pelos Senhores do Reino Elemental.

Aspecto do Caminho de Dom Bosco na região da Chapada dos Veadeiros GO Foto: Valério Azevedo ©2006

Publicado por vanaweb

Valério Azevedo nasceu na segunda metade do Século XX. O autor é, portanto, um baby-boomer. Cresceu assistindo televisão. Aos nove anos acompanhou, ao vivo, o homem caminhar pela primeira vez na superfície da Lua, porém sem cores. Há esse tempo, seriados de TV mostravam viajantes do espaço, do tempo e do fundo do mar combatendo monstros ameaçadores. Somente em 1973 a televisão no Brasil ganhou cores e ele passou a ver, sem assombro, negras silhuetas contra o céu azul despejarem a morte sobre a Indochina. Nessa época havia na casa dos seus avós um telefone que ele nunca usou. Anos mais tarde, em seu primeiro emprego, Valério conheceu o videoteipe. Invento extraordinário, que aprimorou a manipulação de imagens e sons, causando na narrativa audiovisual um sentimento algo instantâneo e urgente, e apaixonou-se por essa ideia. Pouco depois apareceram os primeiros computadores pessoais. Eles poderiam facilmente substituir máquinas de escrever e pilhas de papel, mas o autor os percebia apenas como brinquedos. Ele jogava xadrez com um deles e em sua esverdeada tela de fósforo encontrou inspiração para começar a escrever ficção. Com a chegada, no Brasil, do telefone celular e da rede mundial de computadores, em princípios dos anos 1990, a conexão entre as pessoas se intensificou incrivelmente. Ao mesmo tempo, a passagem de registros analógicos para digitais alterou de forma decisiva o modo de se produzir informação. Pouco depois da virada do milênio, o advento das redes sociais da internet foi o golpe de misericórdia na elaboração regulamentar de informações. Para o autor da página A Existência Virtual, “agora que os telefones fazem tudo, e até transmitem imagens e sons ao vivo, cada pessoa já pode se ocupar de espalhar sua precária e angustiada verdade, que a seguir se dissolverá como os entressonhos do alvorecer”. Então, decidiu retornar ao papel impresso, pois segundo ele, conforta-o a sensação do livro nas mãos e a ausência da barra de rolagem.

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